Vander Piaia
A medição do PIB é confiável?

Um problema recorrente na avaliação do desempenho econômico das nações tem a ver com a contaminação política sobre os eventos reais, o que acaba induzindo para conclusões opostas à realidade. No caso do Brasil, isso é muito mais evidente nos períodos em que ocorre grande polarização político-ideológica. Em suma, os negócios de certos setores podem estar indo muito bem, contudo, devido ao distanciamento ideológico com o governo, acaba-se construindo uma narrativa de crise enquanto os resultados dos balanços financeiros apontam números sorridentes.
O IBGE anunciou que o PIB brasileiro cresceu 3,4% em 2024. Embora não se tenha uma métrica perfeita para se dizer qual o tamanho do crescimento do PIB adequado, valores acima de 3% costumam ser satisfatórios para países em desenvolvimento. As nações mais pobres precisam de números maiores, normalmente acima de 5% para indicar que estão saindo da zona dos atrasos econômicos históricos.
No caso do PIB brasileiro de 2024, interessa analisar quais foram os setores que mais contribuíram para o crescimento. Era esperado que a agropecuária fosse o grande motor do aumento, porém, o setor de serviços e a indústria foram os puxadores do produto interno bruto. O IBGE apontou que a expansão do consumo das famílias foi de 4,8%, o que obviamente refletiu positivamente nos setores já citados.
Porém, de onde saiu a renda das famílias? A resposta pode indicar a qualidade do crescimento do PIB. Ela poderia ter vindo da inserção das pessoas ao mundo da produção, através da incorporação delas ao mercado de trabalho, o aumento do empreendedorismo individual. Infelizmente, não foi o que ocorreu. O aumento da renda foi suportado basicamente pelos programas sociais. Como é sabido, no Brasil, tais programas não exigem do indivíduo com capacidade produtiva a sua disponibilidade para o mundo do trabalho. Na prática, significa que o PIB foi “anabolizado”, ou seja, não é um PIB limpo, saudável. Um dos efeitos é a diminuição da produtividade média do trabalho, gerando um sintoma desconfortável que vai se somando ano a ano, aumentando a distância do país com relação às nações cuja prosperidade está assentada basicamente na capacidade produtiva de sua população.
Em suma, é um PIB perigoso, pois sugere que o caminho está correto, quando na verdade está maquiando uma grande discrepância produtiva que irá nalgum momento cobrar o preço.
- Vander Piaia é comentarista econômico e professor da Unioeste
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