A Igreja Católica tem um novo – e para muitos inesperado – líder. Robert Francis Prevost, nascido há 69 anos em Chicago, assumirá o Trono de São Pedro com o nome de Leão XIV. É o primeiro papa dos Estados Unidos, o segundo das Américas, após seu antecessor Francisco. Eram pouco mais de 13h (hora de Brasília) quando a fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina e levou ao delírio a multidão que ocupava a Praça São Pedro. Em um italiano praticamente impecável e sob os aplausos e gritos do público, Leão XIV leu a tradicional mensagem Urbi et Orbi (À Cidade [de Roma] e ao Mundo - íntegra com legendas) evocando diversas vezes Francisco, que o fez cardeal, lembrando o amor de Deus e pregando uma “paz desarmada e desarmante”. “Temos de buscar juntos sermos uma igreja missionária. Uma igreja que constrói pontes e diálogo” afirmou. (CNN) “Ianque Latino”. O apelido que o agora papa Leão XIV ganhou no Vaticano é mais do que justo. Robert Prevost nasceu em Chicago em 1955 em uma família profundamente católica de ascendência francesa, italiana e espanhola. Ordenou-se padre em 1982, integrando a Ordem de Santo Agostinho, e atuou na mesma igreja que frequentava desde menino, até ser enviado, em 1985, para uma missão de dois anos em Piura, uma das maiores cidades do Peru. Voltou ao país em 1988, onde ficou por 11 anos, até retornar para Chicago e assumir o comando dos Agostinianos. Francisco, de quem era muito próximo, o mandou de volta ao Peru, agora para a diocese de Chiclayo, onde se tornou bispo. Sua atuação lá, especialmente em defesa dos mais pobres, lhe valeu o apelido de “Santo do Norte”, e seus laços com o país o levaram a adotar também a cidadania peruana. Mas foi acusado (e depois inocentado) de acobertar casos de abusos por padres. Até o início do conclave, ocupava no Vaticano o poderoso cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, que avalia quais clérigos podem ser promovidos. (Jornal Nacional e AP) Por suas ações e palavras ao longo da carreira eclesiástica, Leão XIV promete ser muito semelhante a Francisco, mas não igual. “Um bispo não deve ser como um príncipe em seu reino, mas sim humilde, próximo do povo a que serve. Deve caminhar com eles, sofrer com eles”, disse em uma entrevista em outubro. Como seu antecessor, tem uma posição firme em defesa dos imigrantes e na cobrança de proteção ao meio ambiente, mas suas visões sobre comportamento são mais alinhadas com a doutrina rígida da Igreja. Já criticou a forma simpática como a mídia mostra famílias de pessoas do mesmo sexo com filhos adotivos – “crenças e práticas que divergem dos Evangelhos”. (Washington Post) Donald Trump disse que a eleição do primeiro papa nascido nos Estados Unidos é “uma grande honra” e que não vê a hora de se encontrar com ele. O vice JD Vance, que se converteu ao catolicismo em 2019, também elogiou a escolha. Mas a relação do pontífice com a Casa Branca, ao menos online, não é das melhores. Uma conta no X em nome de Prevost criticou a política de deportações de Trump e reagiu a uma entrevista do vice. “JD Vance está errado. Jesus não nos pede para hierarquizar o amor ao próximo”, diz o texto. O Vaticano não confirmou se a conta realmente pertence ao novo papa. (BBC) Líderes mundiais saudaram a eleição de Leão XIV. O presidente Lula parabenizou o pontífice e pediu a continuidade da obra de Francisco. O francês Emmanuel Macron disse ser “um dia histórico para os católicos”, enquanto Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, desejou um pontificado “guiado com sabedoria e força”. (UOL) Mas por que Leão? Em entrevista ao Central Meio, o historiador Bruno Antunes de Cerqueira, especialista na história da Igreja, conta que o último pontífice a usar esse nome, Leão XIII, que reinou de 1878 a 1903, ganhou a alcunha de Papa dos Operários. “É nítido que o novo papa quer se filiar à tradição do último Leão, que, aliás, era muito ligado ao Brasil”, disse, lembrando que o pontífice atuou de maneira incisiva pela Abolição e que sua encíclica Rerum Novarum (Das Coisas Novas), de 1891, defendeu os direitos dos trabalhadores, criticou ao mesmo tempo o capitalismo selvagem e o socialismo e se tornou a base da hoje chamada doutrina social da Igreja. (YouTube) Usando a cruz que pertenceu a Bento XVI, Leão XIV celebrou nesta manhã na Capela Sistina sua primeira missa como papa. (Folha) E como nas redes nem o sagrado é sagrado, a escolha do novo papa rendeu diversos memes. (Poder360) David Gibson: “Com a eleição de Leão XIV, o Colégio de Cardeais mandou uma clara mensagem de continuidade da agenda reformista de seu antecessor. Mas, a despeito da reputação de Leão de uma personalidade mais calma e disciplinada que a de Francisco, a ira conservadora que atingiu o catolicismo no pontificado anterior deve continuar com o novo papa”. (New York Times) Rodrigo Coppe Caldeira: “Reconhecido por abordagem pastoral equilibrada, experiência missionária e administrativa, Prevost aponta para um papado atento aos dilemas globais e às diversas realidades da Igreja. Sua eleição, como primeiro papa americano e agostiniano, dá mais um passo para uma nova configuração do centro e das margens no catolicismo global”. (Folha) Fiéis esperam que novo papa siga legado de FranciscoMarcelo Martinez
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