Padre Reginaldo Manzotti
Semana das Santas Chagas

Filhos e filhas,
Estamos vivendo a Semana das Santas Chagas! Já na décima edição desta Festa, que se tornou uma torrente de graças de cura e libertação pelas Santas Chagas de Jesus. Quando decidi abraçar essa devoção, uma das primeiras preocupações foi criar um Ícone de Jesus das Santas Chagas, pois somos muito ligados aos sentidos: ver, tocar. Por isso, confiei essa missão ao teólogo, artista plástico e mosaicista Paulo Biscaia. Afinal, a iconografia precisa de fundamento teológico: não se trata de pintar o que se imagina, mas de expressar o mistério.
A iconografia cristã tem como objetivo retratar o mistério de Cristo, da Igreja e dos Santos. Gestos e cores representados nas figuras sagradas colaboram para manifestar a presença de Deus entre os homens. Em relação a Cristo, seus gestos, palavras e cores seguem uma tradição que conduz o fiel à profissão de fé, à inserção no mistério e ao encontro pessoal com Deus.
No ícone de Jesus das Santas Chagas, o Senhor é representado de pé, recordando a visão apocalíptica do apóstolo João: “estive morto, mas eis que vivo para sempre” (Ap 1,18). As cores seguem a tradição da escola iconográfica do Mosteiro da Ressurreição, em Ponta Grossa, referência conduzida por D. Ruberval Monteiro – OSB, cujas obras se espalham pelo Brasil e pelo mundo, especialmente na Itália.
A Abadia da Ressurreição sintetiza os significados dos tons: antes do ano 1000, período de unidade da Igreja, o azul e o vermelho remetiam a realidades semelhantes. O azul, cor do cosmos, é também símbolo do Criador. O vermelho, por sua vez, fala do sangue, da paixão, do martírio, mas também da realeza e do poder. Assim, em ambas as cores encontramos o humano e o divino.
A túnica vermelha de Cristo remete à sua divindade, enquanto o manto humano o reveste. O dourado, nas tradições bizantina e russa, significa luz e eternidade. O ouro, junto ao amarelo, representa a iluminação da própria glória de Deus.
As chagas revelam as marcas da Paixão, agora transfiguradas pela Ressurreição. Os pés calçados recordam a encarnação: apenas o homem vivo necessita dessa proteção. A cruz, antes instrumento de maldição, aparece dourada e luminosa, transformada em estandarte de vitória.
A pedra do sepulcro já não o retém; está atrás dele, diminuída, simples memória incapaz de conter a vida ressuscitada. Seus olhos bem abertos revelam que tudo vê, tudo conhece. Seu olhar firme e destemido fala de verdade e presença.
Uma mão aponta para a chaga, convidando à proximidade. A outra, erguida, indica bênção e vitória. Aos seus pés, o esquife da morte se torna pequeno, vencido pelos pés gloriosos e chagados. A faixa dourada que o cinge manifesta a eternidade d’Aquele que É, que era e que vem.
Assim, a iconografia, por meio dos símbolos, se torna catequese viva: revela a promessa eterna de um Deus que, sendo infinito, entra no tempo dos homens. O limite humano de Cristo abre caminho para a eternidade do homem. É a admirável troca: ao assumir nossa humanidade, Ele nos dá a sua divindade.
Convido você a mergulhar comigo nessa devoção, vivenciada com tanto fervor por Santo Agostinho, São João Crisóstomo, São Bernardo, São Boaventura, São Tomás de Aquino, São Francisco de Assis, São Pio de Pietrelcina e tantos outros santos.
Jesus das Santas Chagas nos ensina que por meio de suas feridas somos curados, evangelizados e enviados a evangelizar. Ensina que, como Tomé, ao tocar Suas Chagas podemos vencer a incredulidade e mostra ainda que, nelas, podemos experimentar a alegria da Ressurreição.
Das Santas Chagas de Jesus brota a força da Igreja, que caminha e testemunha que Evangelizar é Preciso.
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti
COMENTÁRIOS